O que é o Colesteatoma?
O colesteatoma é uma lesão cística composta por células de pele descamada que se acumulam de forma anormal no interior do ouvido médio. Apesar de benigno, o colesteatoma é altamente destrutivo, causando erosão dos ossos do ouvido. Em casos mais avançados, pode comprometer o labirinto e se estender para o espaço intracraniano, com risco de complicações muito graves.
Como o Colesteatoma se Forma?
Existem dois tipos principais de colesteatoma:
- Adquirido – o mais comum, ocorre na otite média crônica colesteatomatosa (OMCC). Desenvolve-se por um processo inflamatório crônico do ouvido médio e retrações (afundamentos) da membrana timpânica decorrentes de problemas ventilatórios localizados ou difusos do ouvido médio. O colesteatoma se forma quando essas retrações se aprofundam, formando bolsas de retração que passam a reter e acumular células de pele descamada. Com o tempo, forma-se uma massa de pele que se encista, produz enzimas e, conforme se expande dentro do ouvido, corrói estruturas ósseas e causa infecções recorrentes.
- Congênito – raro e não tem relação com otite crônica. É uma doença embriológica, presente desde o nascimento, diagnosticada em pacientes com tímpano íntegro e sem histórico de infecções de ouvido. É visível ao exame físico como um cisto esbranquiçado atrás do tímpano. Como seu crescimento é indolente, em regra, o diagnóstico é tardio.nosticado tardiamente, já que cresce de forma lenta e silenciosa.


O Dr. Tobias Torres é médico otorrinolaringologista, especialista em cirurgia do ouvido, com ampla experiência no diagnóstico e tratamento do colesteatoma e doenças do ouvido. Atendimento humanizado e baseado em evidências, oferece cuidado completo para sua saúde auditiva em Blumenau/SC.
Quais são os sintomas do colesteatoma?
A evolução da doença é lenta, e os sintomas costumam surgir apenas em fases mais avançadas:
- Secreção persistente e com odor desagradável no ouvido (otorreia crônica)
- Perda auditiva progressiva
- Sangramento no ouvido (otorragia)
- Em casos graves: tontura, paralisia facial, dor de cabeça, febre, sonolência
Atenção: O colesteatoma não costuma causar dor. A presença de dor pode indicar uma complicação grave.
Diagnóstico do Colesteatoma: Como é Feito?
O diagnóstico é realizado no consultório, por meio da otoscopia (exame físico do ouvido). Com o avanço das tecnologias e uso de endoscópios e microcâmeras, é possível realizar uma análise detalhada do ouvido com filmagens (vídeo-otoscopia). Alguns exames podem ser importantes para complementar a avaliação:
- Audiometria: para avaliação da audição. É comum a identificação de perda auditiva do tipo condutiva.
- Tomografia Computadorizada dos ossos temporais: exame indispensável para avaliar a extensão do colesteatoma, identificar possíveis complicações e para o planejamento cirúrgico.
- Ressonância Magnética Nuclear: útil para detalhamento anatômico e confirmação da presença de colesteatoma nos casos mais complexos.
Epidemiologia e Dados Atualizados
Estudos recentes mostram que a OMCC afeta até 9 a cada 100 mil pessoas por ano, com maior prevalência entre crianças e adultos jovens. Uma revisão sistemática publicada no Journal of Otology (2022) apontou que:
- O colesteatoma é mais comum em pacientes com histórico de otite média aguda na infância.
- A taxa de complicações graves (meningite, abscesso cerebral, labirintite) varia entre 2% e 5% nos casos não tratados.
- A perda auditiva é reportada em mais de 85% dos pacientes com colesteatoma.

Tratamento do Colesteatoma: Cirurgia
O tratamento do colesteatoma é exclusivamente cirúrgico, pois ele não regride com antibióticos ou outros tratamentos clínicos. Em virtude do caráter agressivo, padrão de crescimento e risco de complicações, seu tratamento é tempo-sensível e não pode ser negligenciado. A cirurgia deve ser realizada de forma eletiva o mais precocemente possível.
Cirurgia: Timpanomastoidectomia
O procedimento padrão é a timpanomastoidectomia, que tem como objetivo remover completamente o colesteatoma, prevenir recorrências e, sempre que possível, preservar ou restaurar a audição.
Anatomicamente, o colesteatoma inicia na orelha média e, conforme cresce, se estende para a mastóide (osso atrás do ouvido). Sendo assim, no procedimento remove-se o colesteatoma da orelha média e, quando comprometida, da mastóide.
Timpanomastoidectomia Combinada: Endoscópica e Microscópica
Nas últimas décadas, os avanços tecnológicos revolucionaram a cirurgia otológica. A combinação entre endoscopia de ouvido e microscopia operatória (técnica combinada) tem se tornado padrão em centros de excelência. Enquanto o endoscópio oferece imagens em alta definição e ampla visualização de recessos anatômicos difíceis de acessar, o microscópio oferece visão tridimensional, as duas mãos livres e excelente exposição da mastoide.
Estudos recentes, como o de Marchioni et al. (Otol Neurotol, 2021), demonstram que essa abordagem combinada permite remoção mais completa do colesteatoma, com menor taxa de recorrência e menor necessidade de reoperações. Além disso, quando a doença é restrita à orelha média, a visualização endoscópica reduz a necessidade de ressecções ósseas extensas, contribuindo para preservação da anatomia.
Essa técnica exige domínio técnico elevado e experiência cirúrgica, mas oferece melhores resultados funcionais e menor risco de complicações.
De acordo com a extensão do colesteatoma e as características anatômicas do ouvido, duas técnicas de timpanomastoidectomia podem ser empregadas:
- Cavidade Fechada (canal wall up): menos agressiva, com preservação do canal auditivo. Indicada em casos de colesteatomas menores e localizados.
- Cavidade Aberta (canal wall down): realizada quando o colesteatoma é extenso ou de difícil remoção. Remove-se a parte póstero-superior do conduto auditivo, criando uma cavidade única em conjunto com a mastoide.
Em alguns casos, é necessária uma segunda cirurgia (second look) após 12 a 18 meses, especialmente na técnica fechada, quando há indícios de recorrência do colesteatoma.

Recuperação e Prognóstico
A recuperação varia de acordo com a técnica usada, mas geralmente o paciente pode retornar às atividades em 10 a 14 semanas. Já a recuperação auditiva depende da extensão e agressividade da doença e da possibilidade de reconstrução da cadeia ossicular no intraoperatório.
Quanto mais cedo for diagnosticado e tratado, maior a chance de evitar sequelas auditivas.
A taxa de recorrência do colesteatoma pode chegar a 15–20%, o que reforça a importância do seguimento médico regular com exames de imagem.
Complicações Graves do Colesteatoma
- Surdez total do ouvido afetado
- Paralisia facial periférica
- Fístula labiríntica e vertigem incapacitante
- Meningite
- Abscesso cerebral
- Trombose do seio sigmoide
Algumas dessas complicações podem ser fatais. Por isso, o colesteatoma não pode ser negligenciado.
Conclusão: Quando Procurar um Otorrinolaringologista Especialista em Ouvido?
Se você ou alguém próximo tem histórico de infecções crônicas no ouvido, secreção persistente ou perda auditiva progressiva, é fundamental procurar um otorrinolaringologista especializado em cirurgia otológica. O colesteatoma é uma doença silenciosa, mas potencialmente devastadora.
A avaliação especializada e o tratamento cirúrgico adequado torna o ouvido seguro e pode restaurar a audição;